A violência
urbana é endêmica, principalmente no Brasil. O sentimento de insegurança é
prevalecente. Como alguém já escreveu: somos consumidores do medo. E neste
cenário muitos se perguntam: Qual a melhor arte marcial para autodefesa? Como em
defesa pessoal não há regras nem limites como em competições. Ambas pensam em
simplicidade e imprevisibilidade. Os danos físicos de ambas são graves.
Bom, pra
começar, o Krav Magá não gosta de ser intitulado como arte marcial, mas como
defesa pessoal. Tudo bem! É um direito reservado a cada um se referir ao seu
sistema. Porém, com a liberdade de discordar, vamos colocar o Krav Magá (KM)
como uma arte marcial israelense aqui, em contraste com uma arte marcial
chinesa, que é o Wing Chun Kung Fu (WCKF). Qual seria dessas artes a arte
marcial mais perigosa ou a arte marcial mais eficiente ou a arte marcial mais
completa? Ambos os sistemas de luta priorizam a economia e simplicidade dos
movimentos. Atualmente as duas artes são muito conhecidas em todo mundo.
Qual arte
marcial melhor? Não existe resposta fácil, pela simples razão que a vida não é
uma cena de filme controlada, tudo é imprevisível. O certo é que, ambas as
artes marciais, WCKF e KM, possuem muitas escolas e associações. Muitas escolas
e mestres dizem que seguem ou uma sucessão legitima ou mantem-se fiel aos princípios
originais, mas na verdade cada uma diverge da outra em algum ponto e adaptam ou
alteram os estilos repassados. Isto é fato, basta acompanhar centenas de vídeos
de todas as partes do mundo pela Internet.
A arte do
sistema de defesa pessoal do Wing Chun é realista. Um dos slogans do KFWC é:
“Wing Chun é Real!” Muitas situações de perigo e de sobrevivência são
treinadas. E o KM também trabalha muito nesta divulgação e treinamento de
REALIDADE.
É importante
enfatizar que, há muitas artes marciais que são dedicadas exclusivamente a competições
com regras (como o Muay Thai, Judô, Jiu jitsu, Karatê, Kickboxing, Boxe, Tae Kwon Do, Sambo), outras
são mais tradicionais como o Aikido, outras são mais performáticas como a
Capoeira e outras mais voltadas para a defesa pessoal como Jeet Kune Do e Keyse,
obviamente qualquer arte marcial pode ser útil numa briga de rua, vai depender
se ela deixa o praticante ileso ou não. Contudo há artes mais específicas para
a autodefesa. E entre elas, hoje se destacam o Wing Chun e Krav Magá como
estilos de defesa pessoal mais urbanos e próximos da violência real. Poderia
incluir outras como o JKD e Keyse, mas a comparação é restrita ao KFWC e KM. E
também poderia incluir outras artes marciais bem urbanas, mas aqui é somente
uma breve introdução a um tema tão complexo. O artigo não pretende ser a última
palavra sobre o assunto.
O Wing Chun
e o Krav Magá se harmonizam em muitos fundamentos e filosofias. Essas duas
artes se destacam por habilidades de situações de autodefesa e proteção, e suas
teorias e práticas são voltadas para a sobrevivência do praticante, da “simplicidade”
de aplicações e outras táticas de autodefesa. Por que “simplicidade” de
aplicações com aspas? Porque a maestria de um movimento técnico muitas vezes
exige anos de dedicação.
É bom
lembrar também que muitas artes marciais são também para objetivos estéticos e
coreografados. E tanto o Wing Chun quanto o Krav Magá possuem sistemas
adaptados a autodefesa urbana. E ambas NÃO possuem estilos extravagantes,
grandes ataques abertos e saltos espetaculares e cinematográficos. Pelo
contrário, NÃO são performáticas, são práticas e muitas vezes feia
esteticamente. Mas para elas o que mais vale é sair vivo de uma situação de
combate. Isto é um ponto em comum das duas artes.
O que
realmente tem que ser colocado em dúvida e teste é se a arte marcial vai
funcionar num combate de rua, numa invasão de domicilio, em briga de bar, numa
situação extrema e real dentro de um ônibus, avião, elevador, num beco etc.
Se o JKD, o
Muay Thai, o Jiu Jitsu, o Karate e outras artes protegem eficazmente o
praticante numa situação extrema e real, excelente! Funcionou? Saiu vivo? Não
foi para o hospital? Ótimo! Quando comparamos o Wing Chun com o Krav Magá não
devemos desmerecer os valores das outras artes marciais, mas o objetivo aqui é
a FOCO das lutas de rua. E vale ressaltar, muito importante: estas duas artes
comparadas ainda dependem muito dos seus estilos, escolas, academias e
professores. Uns professores são mais voltados para estilos mais suaves outros
são mais duros. Se alguém procura uma defesa pessoal é melhor procurar um
professor que treine mais duro e mais próximo da realidade da violência urbana.
Porque a vida real não perdoa.
Alguém pode
achar essa comparação injusta e desleal, achando que um sistema é muito
superior a outro. Mas não se prenda a preconceitos, como por exemplo achar que
um estilo derivado de judeus não deve ser bom pois não são como os tradicionais
chineses (famosos por suas artes marciais), ou menosprezar o kung fu achando
que é coisa de filme. Mas não se engane, ambos podem ser estilos brutais de
combate em ambientes fechados e pequenos, em ambientes descontrolados e imprevisíveis.
Ambos atacam garganta, olhos, genitálias, nuca, costelas, praticam quebramentos
e strikes; há muitas perfurações, chutes, bloqueios, e ambos, gostam de ataques
simultâneos. As duas artes possuem um arsenal incrível de combates de curta
distância.
Afunilando
mais as características dos estilos, o krav maga é por essência militar, há
combates com armas de fogo, como AK-47, baionetas, coronhadas, com facas,
bastões, paus, cadeiras. Enquanto o Wing Chun é mais voltado para as cidades
(embora o krava Magá também seja). Os cenários e situações urbanas estão em
ambas as artes. Ambos possuem reações rápidas e ataques simultâneos.
O krav Magá
é mais adaptado a ambientes de guerras e terrorismo em sua essência, já o Wing
Chun é voltado mais para uma ampla variedade de movimentos de combate
homem-a-homem com as mãos limpas, sem armas. Apesar do treinamento usual com
facões e bastão longo. Mas ninguém vai sair por aí com dois facões ou bastão
longo no meio da rua. Acredito que a maior essência do Wing Chun, sua alma,
seja o Boneco de Madeira ou Homem de Madeira, o Mud Jong.
O que
podemos destacar de cada arte para compará-las? Segue uma pequena comparação:
A técnica do
krav Magá se destaca por:
Partilhar de
outras artes, tais como o Boxe ou Muay Thai (nos movimentos de punhos e
técnicas de pernas) ou o Jiu-Jitsu (para as técnicas de chaves, torções, e
desarmamentos), o Krav Magá realiza treinos simulados contra vários oponentes e
cenários, contra a parede, enquanto se protege, sem a utilização de um braço,
quando tonto, contra agressores armados etc.
A técnica do
Wing Chun se destaca por:
Partilhar de
outras artes do Kung Fu, em suas várias linhagens. Retirando de muitas artes
marciais chinesas os golpes mais simples, objetivos e práticos. O Wing Chun não
realiza muita simulação de cenários, mas engloba muitos movimentos de técnicas
home-a-homem todo tempo.
Ambas as
artes enfatizam a prática:
De situações
de combate próxima da realidade em situações possíveis de ocorrerem nos dias
atuais. É colocada muita atenção em fatores como a resistência, a velocidade
explosiva e a concentração.
Ambas as
artes são baseadas em filosofia lógica, que enfatizam a aplicação de golpe mais
natural e prático.
Tanto o KFWC
e o KM tem como base do sistema a autodefesa. Porém a agilidade do KFWC é mais
complexa e abrange mais técnicas de defesa e ataques. A comprovação disso é a
complexidade de movimentos das FORMAS. –
Siu Lin Tao, Chun Kiu, Biu Gee. Estas são as três formas com as mãos (sem
armas), ainda podendo ser acrescentado o Boneco de Madeira com mais de 100
movimentos. Com armas ainda têm os movimentos com os facões e com o bastão
longo. Portanto pode-se considerar que o domínio do sistema KFWC é mais
complexo do que o do KM. Não que seja superior, porém mais complexo. O KM é
mais enxuto.
O repertório
de cenários no KM é maior:
Incluindo
circunstâncias desfavoráveis e limitadoras da nossa liberdade de ação (em
locais isolados, no escuro, em posição sentada, deitada, etc.). O KM ama
simulações e cenários urbanos.
Ambas
possuem em comum:
Movimentos simples,
curtos e rápidos. O KM ainda é mais simples, menos complexo.
Principais
objetivos dos dois sistemas:
Rapidez
Boa base
Atingir os
pontos críticos do corpo
Evitar ser
atingido
Alternar de
defesa para ataque rapidamente
Usar os
reflexos naturais do corpo
Neutralizar
o alvo
Ser objetivo.
Ambos são:
Muito
prático e objetivo; seguindo uma linha lógica, matemática, física, biomecânica,
quase cirúrgica, porém instintiva e natural de defesa corporal.
Ambas sem suas
bases tradicionais e filosóficas seriam apenas uma ciência brutal e desumana de
lesão, morte e destruição. Portanto É PRECISO CONSIDERAR A ESCOLA, A LINHAGEM E
FORMAÇÃO DE CADA UM. A melhor será a que melhor se adapta a necessidade, interesse
cultural, biótipo, idade, situações psicológicas, situações externas,
treinamentos etc. Como é dito em um diálogo do filme O Mestre das Armas, com
Jet Li: “Acredito que nenhum estilo é melhor do que o outro... são os níveis de
treinamentos que variam... nossos verdadeiros inimigos somos nós mesmos”.
Lembra-se da
nossa pergunta lá no início? Qual arte marcial melhor? Não existe resposta
fácil. A melhor é a que funciona quando mais precisarmos. Certamente a melhor
defesa é a mais simples, mais econômica e mais instintiva. E usar somente como
proteção e não praticar violência gratuita. Se um praticante, seja de KFWC ou
KM, não for disciplinado e controlado, e abusar do conhecimento que tem de modo
injusto, esta não será a melhor arte marcial. A melhor arte é quando usada
eficientemente quando ameaçado realmente, e não deve ser um meio para intimidar
os outros.
O
autocontrole é fundamental. Em um combate é importante lidar bem com o medo,
stress, agressividade, dor, disciplina e tolerância. Esta é a filosofia real. Bom treino!